Por:
Vicente Serejo
Há
quem não goste Senhor Redator, mas é verdade: não temos elites. E temos, se
alguém chamar de elites os nossos ricos de toda espécie. Muitos deles, mas não
diria todos, com passados fincados no Estado nutridos daqueles malabarismos
como o perdão de dívidas nas secas, Sudene, reflorestamentos, estradas, obras
públicas e que tais. Afastados estes, restariam poucos dotados de uma boa e
bela história de vida para contar, se viver é também exercer a consciência de
que liderar é construir novos destinos.
Os
financistas no seu pragmatismo justificariam: somos economicamente pobres.
Seria perfeito se não fosse uma falácia bem urdida. No passado éramos mais
ainda, no entanto, tivemos consciência coletiva. E se ali existiu uma
oligarquia pensante há de ter sido a Albuquerque Maranhão liderada por Pedro
Velho. Não temeu a modernidade com medo de perder espaço e poder. Proclamou a
República entre nós, fundou um jornal para discutir idéias, formou algumas
gerações, foi uma verdadeira escola.
O
Rio Grande do Norte vive hoje a mais medíocre de todas as gerações políticas.
Da guerra do caju até hoje, nesta ilharga da Fortaleza dos Reis Magos e neste
descampado de tabuleiros, nunca fomos tão pobres de grandeza. A geração que
desapareceu pode ter tido aqueles defeitos inevitáveis da política, mas tinha
inegável espírito público. Seus talentos não nasceram nas folhas dos
inventários e dos formais de partilha como herdeiros de riqueza. Pelo contrário:
tinham até medo de não realizarem o bem feito.
O
que eles fizeram? Uma república para o voto livre. Jornais para o debate das
idéias. Uma escola para educar a mulher. Uma universidade. Um hospital
infantil. Um educandário para menores pobres. Educação rural e através do
rádio. Energia de Paulo Afonso. A exploração de novas riquezas. A busca do
turismo na geração de emprego e renda. E o que fazemos hoje? Vamos às urnas
para empregar filhos que se sucederem a seus pais, e mesmo que o façam com gosto,
serão no máximo bons herdeiros.
Nem
o timbre e o tino dos velhos coronéis, sagazes e astutos, fundadores de vilas e
povoados, temos mais. Neste descampado de talentos sobrou muito pouco como
semente para se plantar um novo futuro que não seja este que hoje se reproduz
todos os dias. Até a Universidade, nosso maior centro de idéias e pensamento,
cumpre aquele destino perverso de transformar a prática da libertação e
discussão em apenas, e pobremente, como disse o filósofo Luis Felipe Pondé,
‘num lugar de miséria intelectual’.
Não
temos saída Senhor Redator. Pelo menos por enquanto. É o que nos aguarda nos
próximos anos. Nenhum novo talento fere a monotonia do nosso céu político.
Somos pardos e parcos em tudo, menos em grifes, signos luxuosos, ostentação.
Tão pobres que extirpamos o pudor de nossa consciência crítica. Afinal, seria
terrível ter que enfrentá-lo todas as manhãs, quando a vida tem gosto de
pasta. É como se disséssemos a uma só
voz: ao lixo a discussão das idéias, a contradição, a liberdade de pensar!
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