terça-feira, 7 de agosto de 2012

Serejo: Dos pra lá, dois pra cá…

Por: Vicente Serejo

Nas duas últimas décadas, Senhor Redator, Natal tem sido para os partidos de todas as cores um campo de provas. Tem servido a todo tipo experiências, de acordões ou terceirizações de candidaturas sem nem ao menos a novidade das passeatas de Aluizio Alves em sessenta. Talvez isto explique a pobreza de sua evolução política e urbana, sem líderes e sem administradores com visão de futuro. E incapaz de fazê-la usufruir das excelentes condições geográficas e históricas que reúne no seu território.

Gostamos de obras físicas. Desde a construção da Fortaleza dos Reis Magos que nos fez fazer parte do roteiro da arquitetura colonial-militar portuguesa, ao Palácio do Governo e Teatro Alberto Maranhão, hoje centenários. Da inauguração da Ponte de Igapó, a de ferro, na segunda metade dos anos vinte; das travessias aéreas do Atlântico e da presença dos guapos soldados americanos na Segunda Guerra Mundial estourando corações e úteros das nossas moças que sonhavam com seus príncipes.

O que é moderno, em nós, não nos moderniza. A Barreira do Inferno não nos levou a nada. A torre de Oscar Niemayer nos espia do alto, pra nada. A Ponte Newton Navarro, shoppings, hotéis. Falta concepção moderna de vida. Sistema público de saúde razoável, uma educação eficiente, bibliotecas e museus interativos. Nossos avanços foram destruídos por abandono e inanição. Não nos faltaram sementes de grandes idéias, mas nada prospera nesta vila de antanhos e outroras com suas falsas elites.

O que fizemos do legado da modernidade urbanística de Polidrelli e Palumbo? Do belo mecenato de Alberto Maranhão investindo no teatro e fundando orquestras? Do pioneirismo de Juvenal Lamartine implantando escola de aviação, mecanização agrícola, melhoria genética do rebanho, ensino rural? Das grandes experiências das campanhas ‘De pé no chão também se aprende a ler’ e do Método Paulo Freire? E das idéias econômicas e sociais promovidas pelos governos Aluizio Alves e Cortez Pereira?

Ora, Senhor Redator, nada continua aqui. E nada se transforma. Cada um que chega anuncia que vai reinaugurar o Rio Grande do Norte. Declara inútil tudo quanto foi feito no passado, quando não faz pior e deixa se destruir por si só. Vem sempre um novo Rio Grande do Norte, um grande Rio Grande, um rio maior e melhor para todos. Todos se dizem trabalhadores e, no entanto, tudo nos falta: vacinas, remédios, escola, comida, segurança. Todos anunciam seus milagres como se fosse milagroso governar.

Por isso estamos começando tudo outra vez. Num dois pra lá, dois pra cá. Quem sabe vamos amanhecer com outro rosto, maquiado, no espelho. Não tão novo, mas de velhas rugas reluzentes disfarçadas pelo colorido das nossas próprias fantasias. Essa qualidade, Senhor Redator, nós temos e ninguém vai nos negar: sabemos enganar a nós mesmos. Somos os próprios palhaços do nosso riso fácil e arlequins de um carnaval fora de época que inventamos para o pobre encanto da nossa velha tolice

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