Nas
duas últimas décadas, Senhor Redator, Natal tem sido para os partidos de todas
as cores um campo de provas. Tem servido a todo tipo experiências, de acordões
ou terceirizações de candidaturas sem nem ao menos a novidade das passeatas de
Aluizio Alves em sessenta. Talvez isto explique a pobreza de sua evolução
política e urbana, sem líderes e sem administradores com visão de futuro. E
incapaz de fazê-la usufruir das excelentes condições geográficas e históricas
que reúne no seu território.
Gostamos
de obras físicas. Desde a construção da Fortaleza dos Reis Magos que nos fez
fazer parte do roteiro da arquitetura colonial-militar portuguesa, ao Palácio
do Governo e Teatro Alberto Maranhão, hoje centenários. Da inauguração da Ponte
de Igapó, a de ferro, na segunda metade dos anos vinte; das travessias aéreas
do Atlântico e da presença dos guapos soldados americanos na Segunda Guerra
Mundial estourando corações e úteros das nossas moças que sonhavam com seus
príncipes.
O
que é moderno, em nós, não nos moderniza. A Barreira do Inferno não nos levou a
nada. A torre de Oscar Niemayer nos espia do alto, pra nada. A Ponte Newton
Navarro, shoppings, hotéis. Falta concepção moderna de vida. Sistema público de
saúde razoável, uma educação eficiente, bibliotecas e museus interativos.
Nossos avanços foram destruídos por abandono e inanição. Não nos faltaram
sementes de grandes idéias, mas nada prospera nesta vila de antanhos e outroras
com suas falsas elites.
O
que fizemos do legado da modernidade urbanística de Polidrelli e Palumbo? Do
belo mecenato de Alberto Maranhão investindo no teatro e fundando orquestras?
Do pioneirismo de Juvenal Lamartine implantando escola de aviação, mecanização
agrícola, melhoria genética do rebanho, ensino rural? Das grandes experiências
das campanhas ‘De pé no chão também se aprende a ler’ e do Método Paulo Freire?
E das idéias econômicas e sociais promovidas pelos governos Aluizio Alves e
Cortez Pereira?
Ora,
Senhor Redator, nada continua aqui. E nada se transforma. Cada um que chega
anuncia que vai reinaugurar o Rio Grande do Norte. Declara inútil tudo quanto
foi feito no passado, quando não faz pior e deixa se destruir por si só. Vem
sempre um novo Rio Grande do Norte, um grande Rio Grande, um rio maior e melhor
para todos. Todos se dizem trabalhadores e, no entanto, tudo nos falta:
vacinas, remédios, escola, comida, segurança. Todos anunciam seus milagres como
se fosse milagroso governar.
Por
isso estamos começando tudo outra vez. Num dois pra lá, dois pra cá. Quem sabe
vamos amanhecer com outro rosto, maquiado, no espelho. Não tão novo, mas de
velhas rugas reluzentes disfarçadas pelo colorido das nossas próprias
fantasias. Essa qualidade, Senhor Redator, nós temos e ninguém vai nos negar:
sabemos enganar a nós mesmos. Somos os próprios palhaços do nosso riso fácil e
arlequins de um carnaval fora de época que inventamos para o pobre encanto da
nossa velha tolice
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