sábado, 19 de novembro de 2011

Teatro Nô

Fonte: O Samurai

O Nô é a arte teatral clássica do Japão, um drama lírico que combina a música, a dança e a poesia. O Nô adquiriu a sua forma definitiva no fim do século XIV, graças ao trabalho de Kanami e seu filho Zeami, este último um estudioso da estética inspirada no Zen. Pai e filho inovaram o Sarugaku, uma antiga e popular forma de entretenimento, introduzindo refinamentos estéticos e tornando esta arte teatral a mais rica em simbolismos do mundo.

 O repertório do Nô é formado de aproximadamente 240 peças, entre as quais um terço foi escrito por Kanami e Zeami. O Nô cresceu como arte popular durante o período das guerras interfeudais (séculos XV e XVI). Durante a Era Edo, o Nô foi considerado pelo xogunato Tokugawa a cerimônia artística oficial do Estado. Assim, o Nô recebeu proteção e incentivos do governo tendo inclusive vários daimyo que o estudavam e eram conhecidos atores.

 A forma teatral alterna diálogos em prosa com declamações poéticas cantadas por um coro. Todos os papéis são representados por homens, mesmo os femininos.

 O personagem principal de uma peça é denominado shite, e o seu companheiro, tsure. O ator secundário é chamado de waki, que às vezes também tem um companheiro chamado de waki-zure. O shite é sempre um fantasma, um espírito ou uma criatura fantástica; um ser sobrenatural. O waki é um personagem que vive no presente e tem por função trazer o shite e seu companheiro ao mundo da realidade.

 O shite geralmente usa máscaras nas suas interpretações. Já o seu companheiro, o tsure, utiliza-a apenas quando o seu papel é de mulher. O waki e o seu companheiro nunca usam esses objetos. A máscara utilizada pelo shite tem a função de dar uma maior profundidade emocional ao seu personagem, impossível de ser realizada pelo rosto humano, ao mesmo tempo em que o destaca dos outros atores.

 O traje do shite é também o mais rico e lustroso, sempre mais bonito do que o dos outros personagens. Essa característica nunca é prejudicada a favor do realismo: mesmo que o personagem principal seja um simples camponês, o vestuário elegante não é alterado.

 Um curioso ponto é que o Nô em muitos aspectos despreza o realismo, utilizando-se de uma extrema sutileza nos simbolismos. Por exemplo, em algumas peças em que o tsure aparece antes do shite, então se usa uma criança para interpretar o papel de companheiro do shite, de modo que a sua presença não prejudique a atenção dirigida ao ator principal. Isto acontece até mesmo quando a criança representa o papel de um guerreiro, amante da personagem feminina do shite. O ator infantil é conhecido por kokata e nunca faz uso de máscaras.

 Existe uma grande variedade de máscaras de Nô, que podem ser divididas em máscaras masculinas, femininas e demoníacas. Entre as máscaras de demônio estão algumas que reproduzem rostos humanos, porém com uma expressão bastante exagerada de alguma emoção.

 O palco projeta-se para dentro da platéia, para que se dê uma idéia de arte tridimensional que pode ser vista de vários ângulos. O palco é coberto por um telhado de estilo clássico, com a finalidade de recriar o ambiente original que, no Japão feudal, era ao ar livre. O cenário é muito simples e austero; a tela de fundo tem sempre a imagem de um pinheiro estilizado, nunca mudando de uma peça a outra, mesmo que a história se passe dentro de um palácio.

 Nos fundos do palco encontram-se os músicos. Os instrumentos tocados são uma flauta de bambu e três tambores, de diferentes timbres e tamanhos. Todos eles são indispensáveis na relação entre a canção, a música e a dança, seja na harmonia da flauta, seja na marcação do ritmo dos tambores.

 À direita do palco está o coro, formado geralmente de oito pessoas dispostas em duas fileiras, uma atrás da outra. O papel dos músicos é criar uma atmosfera ideal à representação e à dança, sem nunca sobrepujar a interpretação dos atores.

 Os trajes do Nô são extremamente formais e de tecido abundante, de modo que os contornos naturais do corpo do ator praticamente desaparecem. Dessa forma, as características da roupagem, somadas ao emprego das máscaras, tem por função apagar a individualidade do intérprete, e aí está a essência e o princípio estético dessa forma de arte. O sutil impacto do Nô está justamente no talento artístico que surge das restrições severamente formais que o caracterizam.

 Kyogen

 O Kyogen é um gênero teatral inseparável do Nô; tem um caráter cômico e é apresentado entre os intervalos das peças de um programa de Nô. O objetivo do Kyogen é descontrair a tensão, provocar o riso e oferecer um contraste ao drama.

 Ao contrário do Nô, o Kyogen dá ênfase ao diálogo falado e coloquial, e geralmente não há acompanhamento musical. Também não existe personagem principal. Ao invés disso, dois atores, ou grupos de atores, são lançados uns contra os outros.

 Um programa tradicional de Nô é composto de cinco peças, intercaladas por três ou quatro peças de Kyogen. Atualmente, contudo, é costume fazer programas de apenas duas peças de Nô intercaladas por uma Kyogen, ou até mesmo programas compostos exclusivamente de peças de Kyogen.

 Todo programa de Nô apresenta o princípio do Jô-Há-Kyu, independentemente do número de peças. Jô é a introdução, Há, o trecho central, e Kyu, a conclusão.

 A arte do Nô e do Kyogen foi passada durante séculos de pai para filho. Existem, hoje em dia, cerca de 1500 profissionais que trabalham com essa forma teatral. Nesse número incluem-se os atores, os professores e os músicos especializados em acompanhar as representações. O Nô firmou-se como forma de arte cristalizada assim como o Kabuki. Embora não tão popular como este último, em sua história de 600 anos o Nô ainda se mantém vivo no Japão e, nesse aspecto, é único no teatro mundial.


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