sábado, 12 de novembro de 2011

De Jairo Lima: Poesia sem título

ácida fonte bebe gota a gota a luz do dia
eras quando palmeiras virgens de postais diziam coisas de ver e seguir-se
eras quando coisas de ver
via-se então além das cercanias do ser que és
varrendo
da memória
a retina
que fixa e amplia o és
mesmo que o seja sejam rajadas e o som
mesmo quem és em ser
não saber a que vem o suor da brasa que crepita
ao som da flauta ímpia jornada de pedras e urzes em brasa
e eram casas ante casas e casas anátema de casa
a distância azulejava o cume que no horizonte era linha divisória de água e água em terra firme e velada nostalgia de pintassilgos e pardais
eras como se é não sendo eras guia eras astro eras mãos vazias que se estendiam sobre
na cidade talhadas grossas de aço
erguiam o universo ofuscante de lâmpadas que incandesciam e espoucavam
de quando em quando
de vez em vez
menos se era dia quando só brilhos emplastrados de fulgurações acordavam quando
ventanias de chuva e água e água e água
como para que os peixes sem sombra tanto
de um pérfido sentir azedado infame e infamado
corte o caule do templo e exponha as raízes profanas
até que de noite seja o dia da ira
infernal
e não mais saber que eras é apartar-me do teu és
vem de longe a mancha que anuncia
a luna traz um crime em seu branco nome
vem te ver se és e traze o lume verde em fagulhas de verde em fulgor de verde
vem te ver antes que os montes desabem sobre o teu nome que é
és em nome
para que em teu nome se possa dizer ainda
és
mesmo que sejas no eclipse da sílaba mais clara que te pronuncia.
anda ainda a ver a varanda generosa do sim
nela podes ser pois a ela não importa que sejas em carne ou em som de sílabas
há um acorde suspenso sobre a tua sombra
sete notas de uma escala em ordem insana dizem sim ao teu nome
agora o tempo se enrosca em teu cabelo e te arrebata o nome
és sim
agora sei o teu nome e sei da gruta onde tremente pende o teu nome
o teu nome é sim
sim és em teu nome
as nuvens suspendem suas águas sobre a sílaba mais clara do teu nome
não sabe ainda te dizer a montanha nem o rio que desce e contorna a montanha
mas a luz, a luz te diz o nome sim
agora te sei és sim
o olho que te vê benigna retina dourada
cordas retesadas em salto de felino
tu és vista em és em clave exata
sonata
ou fuga insolente das pedras martirizadas
tudo te sabes ser em és e em sim.

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