terça-feira, 22 de novembro de 2011

Dom Obá

Brasileiro da primeira geração, Cândido da Fonseca Galvão, Dom Oba que em Ioruba significa rei, nasceu na Vila dos Lençóis no sertão da Bahia por volta de 1845, filho de africanos forros, e neto do poderoso Alá a Fin Abiodun o ultimo soberano a manter unido o grande império do Oyo e por direito de sangue era príncipe africano.

E no período compreendido entre os anos de 1865 a 1870 participou da guerra do Paraguai, e devido a sua grande bravura foi condecorado como oficial honorário do exército brasileiro, e ao retornar ao país fixou residência na cidade do Rio de Janeiro onde sua posição social se tornou no mínimo complexa, pois era considerado como uma figura folclórica por uma certa camada da sociedade, e por outro era reverenciado como um príncipe real por escravos, libertos e homens livres de cor.

Amigo pessoal e protegido de Dom Pedro II, Dom Oba assumiu nos momentos decisivos do processo de abolição progressiva o papel histórico de elo entre as altas esferas do poder imperial e as massas populares que emergiam das relações escravistas com suas figura imponente e seus modos soberanos, ao se vestir com suas finas roupas preta ou com seu bem preservado uniforme de alferes do exército brasileiro com sua espada à cinta e seu chapéu armado com penacho colorido nas ocasiões mais especiais.

Ao defender sua visão alternativa da sociedade e do próprio processo histórico brasileiro em razão de suas idéias, com sua linguagem crioula mesclada com o dialeto de Ioruba e latim para uma elite letrada que não compreendiam os seus discursos e para os escravos, libertos e homens livre de cor que compartilhavam com suas idéias e contribuíam financeiramente para a publicação das mesmas que eram lidas nas esquinas e em famílias, teoricamente Dom Oba era um monarquista acima dos partidos que mantinha uma política muito bem matizada, cujas idéias não eram de um conservador e nem de um liberto ao combater ao racismo e ao defender a igualdade entre os homens.

E em razão disto, ele se orgulhava de ser preto e por não acreditar em superioridade devido ao fato de ser amigos de brancos, e de não acreditar que houvesse exatamente questão racial, mas uma questão de cultura, de informação e de refinamento social, fato este que levou o príncipe e os seus seguidores a formulação pioneira quando da criação de uma estética autônoma de que a raça negra não era apenas linda, mas superior do que os mais finos brilhantes.

Fonte: www.infonet.com.br

DOM OBUM PRÍNCIPE NEGRO NAS RUAS DO RIO

Dom Obá 2º d’África, ou melhor Cândido da Fonseca Galvão, como foi batizado, nasceu na Vila de Lençóis, no sertão da Bahia, por volta de 1845.

Filho de africanos forros, brasileiro de primeira geração, era, ao mesmo tempo, por direito de sangue, príncipe africano, neto, ao que tudo indica, do poderoso Aláafin Abiodun, o último soberano a manter unido o grande império de Oyo na segunda metade do século 18.

Príncipe guerreiro, Dom "Obá" (que quer dizer "rei" em ioruba) lutou na Guerra do Paraguai (1865-70), de onde saiu oficial honorário do Exército Brasileiro, por bravura. De volta ao país, fixou residência no Rio, onde sua posição social era, no mínimo complexa. Tido pela sociedade de bem como um homem meio amalucado, uma figura folclórica, era, ao mesmo tempo reverenciado como um príncipe real por escravos, libertos e homens livres de cor.

Amigo pessoal, uma espécie de protegido de Dom Pedro 2º, Dom Obá assumiu, nos momentos decisivos do processo de abolição progressiva, o papel histórico, até então insuspeito de elo entre as altas esferas do poder imperial e as massas populares que emergiam das relações escravistas.

Sua figura imponente de homem de 2m de altura, seus modos de soberano, como que captavam a atenção dos contemporâneos, embora poucos estivessem realmente preparados para acreditar no que viam. Um príncipe afro-baiano a perambular pelas ruas do velho Rio, barba à moda de Henrique 4º, muito bem vestido em suas "finas roupas pretas", como foi descrito, de fraque, cartola, luvas brancas, guarda-chuva, bengala, pince-nez de aro de ouro.

Ou, em ocasiões mais especiais, muito ereto e importante em seu bem preservado uniforme de alferes do Exército, com seus galões e dragonas douradas, sua espada à cinta, seu chapéu armado com penachos coloridos, seu "pacholismo admirável".

Dom Obá, para ser breve, defendia uma visão alternativa da sociedade e do próprio processo histórico brasileiro. Talvez pelo conteúdo mesmo de suas idéias, talvez por sua linguagem crioula, colorida com expressivas pitadas de ioruba e mesmo latim, a verdade é que seu discurso parecia opaco, incompreensível para a elite letrada de então.

Escravos, libertos e homens livres de cor, contudo, não apenas compartilhavam de suas idéias, como contribuíam financeiramente para a publicação das mesmas e reuniam-se nas "quitandas ou em família" para ler os artigos.

O que defendia este homem e porque parecia interessar tanto seus leitores? Sendo um príncipe, era Dom Obá, ao menos teoricamente, um monarquista acima dos partidos, nem inteiramente conservador nem liberal, talvez por achá-los muito parecidos uns com os outros, inspirados apenas por interesses materiais e casuísticos.

Por essas e outras, tinha o príncipe posições políticas muito matizadas. "Por isso sou conservador para conservar o que for bom e liberal para reprimir os assassinatos que têm havido nesta atualidade a mando de certos potentosos", quer dizer "potentados", pessoas muito influentes e poderosas.

O combate ao racismo, a defesa da igualdade fundamental entre os homens, foi um dos pontos mais importantes de seu pensamento e da prática, explicava, "por Deus mandar que quando o varão tiver valor não se olharia a cor". Contrariava não apenas concepções senhoriais, contrariava a própria ciência fin de siècle com suas poderosas filosofias evolucionistas e etnocêntricas.

A miscigenação brasileira, para o príncipe, nada tinha a ver com idéias evolucionistas de inevitabilidade, como pensou Nina Rodrigues; ou desejabilidade, como pensou Sílvio Romero, do "branqueamento". Tinha a ver, ao contrário, com um sentimento de igualdade fundamental entre os homens. O príncipe orgulhava-se de "preto ser" e, por não acreditar em superioridades, era "amigo dos brancos e (de) todos os varões sensatos e conhecedores (...) que o valor não está na cor".

Saída do mesmo universo cultural, uma carta de apoio ao príncipe lembra o absurdo da discriminação, "visto da preta cor ser assemelhada todas as raças".

Outra carta, em 1887, chega a formular um projeto de "enegrecimento", antes que de "embranquecimento" da nação. Para o missivista, súdito de Dom Obá, a raça negra já não era problema, mas a própria solução. Por isso apoiava a nomeação do príncipe como embaixador plenipotenciário na África Ocidental, onde prestaria relevantes serviços, "mandando transportar colonos africanos, para nunca mais sofrer o Brasil decadência na sua exportação de fumo e café (...) e o açúcar e o algodão nunca deixem de fertilizar o solo onde nascera o mesmo Príncipe Obá 2º d’África, de Abiodon neto". Também aqui a discriminação é tida por absurda, sendo, afinal, "cada qual como Deus o fez".

O próprio príncipe publica, vez por outra, poesia abolicionista e antidiscriminatória. "Não é defeito preto ser a cor/É triste pela inveja roubar-se o valor", reza uma delas. Para ele, "o certo é que o Brasil deve deseistir (da) questão da cor, pois que a questão é de valor e quando o varão tiver valor não se olhará a cor".

Na verdade, para Dom Obá, não parece existir exatamente uma "questão racial", mas uma questão de cultura, de informação, de refinamento social. Daí, muitas vezes, o seu desconsolo com a pátria amada, "um país tão novo onde completamente não reina a severa civilização colimada, porque ainda há quem apure a tolice (...) do preconceito de cor".

O príncipe, como seus seguidores, chega a formulações pioneiras também no sentido da criação de uma estética autônoma, na linha do black is beautiful norte-americano dos anos 60. Na verdade, segundo um de seus súditos, a raça negra não apenas era linda, era "superior do que os mais finos brilhantes".

Às vezes parece existir, no fundo, a idéia de superioridade negra. Não no sentido biológico ou intelectual, parece, mas no sentido moral, em função da vivência histórica de diáspora. Sua "humilde cor preta" era, assim, "cada qual como Deus, Maria Santíssima, virgem, sempre virgem sem ser pesada aos cofres públicos, sem ser assassina da humanidade". Tudo isso, concluía, "por preta ser a cor invejada".

Fonte: www.casaruibarbosa.gov.br

UM PRÍCIPE NEGRO NAS RUAS DO RIO

Nascido no sertão da Bahia, mais precisamente, na Vila de Lençóis, por volta de 1845, Cândido da Fonseca Galvão , futuro Dom Obá II d'África tem sua vida reconstruída, com engenho e arte , por Eduardo Silva, chefe do Setor de História da Fundação Casa de Rui Barbosa , no Rio de Janeiro.

O livro, Dom Obá II D'África, O Príncipe do Povo. Vida , tempo e pensamento de um homem livre de cor, acompanha de perto , este filho de africano forro , brasileiro de primeira geração nas suas idas e vindas pelo vasto território nacional. "Ao fazer uma investigação histórica sobre a vida, o tempo e o pensamento dessa figura ;hoje esquecida, Eduardo Silva recupera aspectos importantes do cotidiano, da ambiência cultural e do universo simbólico predominantes entre escravos libertos e homens de cor do Brasil do século XIX".

Entre 1865 e 1869 , quase 3.000 escravos foram alforriados para "assentar praça" na guerra. Galvão não fazia parte deste grupo, mas de um grupo minoritário, o dos voluntários de fato. Tanto para os primeiros , como para os segundos o alistamento abria inúmeras possibilidades de ascender socialmente. Assim, para o Príncipe, a conquista da cidadania teve início concreto com o alistamento militar e prosseguiu com o processo de abolição progressiva. O baiano Galvão terminou a guerra do Paraguai como oficial honorário do Exército brasileiro, por bravura.

Passou a morar no Rio de Janeiro e, gradualmente, marcou presença na sociedade da época. Para alguns era meio louco , um desses personagens típicos que cada cidade costuma ter; para outros, escravos , libertos e homens livres de cor era um príncipe real. "Dom Obá II d'África reinava não simplesmente pela tradição , mas através de poderes extraordinários que lhe eram atribuídos por sua larga "tribo de vassalos". Tais poderes incluíam, certamente, seus legados reais de Abiodun, seus feitos e medalhas de guerra, seu relacionamento com D. Pedro II e, acima de tudo talvez , sua capacidade , ou axé, para a ação política dentro dos quadros reinantes , para a real politik de então". (p.126)

Silva, ao acompanhar os movimentos desse príncipe afro-brasileiro que perambulava pelas ruas do Rio Antigo, segue de perto a própria história político-social do país. História, que como poucas, soube esconder do público personagens negros de importância .

Dom Obá II d'África nos seus escritos , fortemente rebuscados, defendia idéias como a de uma sociedade alternativa, a igualdade fundamental do gênero humano. Chegou a propor a abolição total já em 1882. A discriminação racial era para ele um completo absurdo, daí atacar energicamente o racismo. Ler a história de Dom Obá II D'África é ter em mãos um livro editado com extremo cuidado, é conhecer um personagem fascinante do Brasil do século XIX e inferir que o "avesso" de nossa história tem muito a nos revelar e ensinar.

Fonte: www.academiadosamba.com.br


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