segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pano Rápido, o livro de Joca Souza leão

A ideia era contar histórias. Nunca me agradou chamar história de causo. Histórias de escritores, poetas, artistas, jornalistas, políticos, populares e boêmios pernambucanos (não só, mas principalmente). Histórias bem humoradas. Se possível, engraçadas. Mas nunca anedotas, piadas ou lorotas. Nada contra. Só que uma coisa é história; outra, anedota, piada e lorota.
Histórias da melhor literatura oral pernambucana. Não necessariamente folclóricas, como tão bem e profundamente as pesquisou e contou Câmara Cascudo (Literatura Oral no Brasil). Mas histórias contadas em mesa de bar, debaixo de um pé de pau ou na varanda de um amigo, bebendo e fumando, na época em que fumar não era pecado. Histórias narradas com estrutura e carpintaria de literatura, com esmero nos personagens e cenários; minicontos. Reais. (Mas, evidente, quem conta um conto aumenta um ponto). É também teatro. O contador de história é autor, diretor, ator, cenógrafo e sonoplasta. Com a vantagem de escolher a plateia. Aliás, ele, também, plateia. Pois é entre ela que conta as histórias e reage como qualquer um, ri e chora.
Histórias que ouvi e anotei ao longo da vida, muitas narradas por grandes contadores – entre eles meu pai, Caio de Souza Leão –, ricas em interpretação, gestos, expressões, tonalidades, inflexões, ritmo e sonoplastia. (Quem ouviu as histórias de meu pai ouviu. Quem não ouviu perdeu. Não há como reproduzir por escrito as vozes e os falsetes utilizados para interpretar personagens, tampouco os recursos onomatopaicos para os sons e ruídos; não é, Inah?).
Porque orais, as histórias morrem com seus autores, ouvintes e herdeiros. Se gravadas ou filmadas, perdem espontaneidade. Quem viu o Manuelzão de Guimarães Rosa contando histórias no cinema sabe do que estou falando. Melhor, por certo, conhecê-las no Grande Sertão: Veredas, porque Guimarães as ouviu do próprio Manuelzão. Não filmadas, mas debaixo de um pé de pau nos sertões de Minas, ou na varanda de sua casa.
Quando me ocorreu contar por escrito essas histórias pernambucanas, sobretudo recifenses, pensei logo na revista Algomais. E Sérgio Moury Fernandes, editor da revista, topou na hora. O título, Pano Rápido, tomei emprestado do Pif-Paf, página de Millôr Fernandes na revista O Cruzeiro.
O Pano Rápido foi publicado em 28 edições da Algomais, de maio de 2008 a setembro de 2010.  Quase 200 histórias, com mais de 300 personagens e coadjuvantes, na maioria pernambucanos.
Mas, como no samba de Monsueto, “a fonte secou”. Ou minguou. Preferi então dar uma parada (contra a vontade dos editores, diga-se), juntar novas histórias e, quem sabe, voltar mais adiante. Até porque o Instituto Harrop fez uma pesquisa com os leitores da revista e eu fiquei todo ancho com o resultado: Pano Rápido na cabeça, entre as colunas preferidas.
Mas aí veio a edição comemorativa dos cinco anos da Algomais, em março passado, e Sérgio Moury me pediu para selecionar oito histórias entre as publicadas, “pra matar a saudade dos leitores”. E foi justo um leitor, Aníbal d’Alencastro (“mineiro de Barbacena e olindense por derradeiro”), quem deu a ideia: publicar um livro. E Sérgio, mais uma vez, comprou a ideia no ato. “Vamos fazer!”
E já estamos trabalhando no projeto. Um livro bonito, gráfico, com caricaturas magistrais. As histórias, claro, revisitadas, enxugadas e reeditadas para o novo formato. Algumas, novas, novíssimas. Eu não tinha como resistir. De lá pra cá ouvi muitas histórias boas, ótimas, que não podiam ficar de fora.
Se tudo der certo, leitor, a partir da primeira semana de novembro, Pano Rápido, o livro, nas melhores livrarias da cidade.

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