segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mãe Stella de Oxóssi: Religião, cultura e identidade

Por Profa. Dra. Helena Theodoro
A cultura negra apresenta uma estreita relação entre Arte e Vida, fazendo com que exista uma profunda ligação entre as diversas formas de manifestação religiosa com os fatores sociais, históricos e culturais específicos das comunidades em que surgiram e onde se desenvolveram.
           Os ritos possuem uma função simbólica definida, com uma linguagem que expressa uma estética sacra negra, uma comunicação da participação, um ethos - estilo ou forma própria de expressar valores  que caracterizam uma identidade cultural negra .
         As  comunidades-terreiros de candomblé são espaços sagrados que possibilitam o desenvolvimento da cultura negra, uma cultura simbólica e iniciática, onde cantar, dançar e criar de diferentes formas faz parte do dia-a dia, do cotidiano. Ilustramos este forma de ser com o exemplo da uma yarolixá famosa em todo o país.

    1) A arte do cotidiano

        Mãe Stella
Olô, o araketo ê, faraimará, faraimará ,arole,faraimará”.
             Tal saudação significa: “Povo de Keto vamos nos abraçar, em reverência a Oxóssi”.
Quando assumiu o Ilê Axé Opó Afonjá (Casa onde Xangô é o Senhor) sucedendo Mãe Ondina, foi a mais jovem ialorixá da Bahia.  No entanto, a ascensão de Mãe Stella marca um fato ainda mais importante, qual seja, a continuidade da tradição do matriarcado no Opó Afonjá.   Além de comandar as tarefas religiosas da comunidade-terreiro, onde vivem mais de cinqüenta famílias, Mãe Stella implantou também alguns projetos sócio-culturais.  Um deles é a Escola Eugenia Anna dos Santos (Iyá Oba Biyi) - fundadora do Axé Opó Afonjá em 1910.
           O Museu Ilê Ohun Lai Lai (Casa das Coisas Antigas) é outro projeto, sendo o primeiro do gênero na Bahia, já que sua função é resgatar a memória do Ilê Axé Opó Afonjá.
          Mãe Stella se destaca também por ter sido a primeira ialorixá a escrever livros sobre sua religião, sendo de julho de 1993 sua última publicação, atualmente esgotada, intitulada Meu tempo é agora, da Editora Odudua, de São Paulo, com prefácio de Geraldo Machado, e que é dedicado aos filhos do Ilê Axé Opo Afonjá. 
        Em 1983, durante a II Conferência Internacional da Tradição dos Orixás e Cultura, Mãe Stella manifestou-se contra a fusão dos orixás africanos com os santos católicos, afirmando:
                        Nos tempos atuais, de total liberação, é bom lembrar
que estas manobras devem ser abandonadas,    
 assumindo cada um sua religião de raiz.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário