domingo, 25 de setembro de 2011

A nova inquisição no Rio Grande do Norte: a perseguição policial aos pais-de-santo, por Geraldo Barboza de Oliveira Junior

A NOVA INQUISIÇÃO NO RIO GRANDE DO NORTE: A PERSEGUIÇÃO POLICIAL AOS PAIS-DE-SANTO.
Geraldo Barboza de Oliveira Junior

No Estado do Rio Grande do Norte é observada e registrada desde o final do século XIX até os dias atuais uma grande variedade nos cultos afro-brasileiros. Temos o culto da Jurema, a Umbanda e o Candomblé. Este último divide-se nas seguintes modalidades ou Nações: Nagô, Kêtu, Angola, Jeje e Omolocô. O objetivo aqui é demonstrar que o cotidiano vivido pelos adeptos destas expressões religiosas encontra convergência em dois principais aspectos: a invisibilidade social e na literatura regional; e, a conseqüente marginalização social dos adeptos e da religião em si. Em se tratando da marginalização das religiões afro-brasileiras na cidade de Natal, podemos ressaltar dois aspectos importantes: o papel da mídia televisiva, que busca o sensacionalismo para garantir uma audiência; e que para isso relativiza bastante a ética, ressaltando aspectos bizarros e folclóricos de alguns pais-de-santo. E, outro fato que começa a fazer parte da cena política dos pais-de-santo é a perseguição através da polícia civil e, em especial, da Promotoria do Meio Ambiente. Estas instituições passaram a acatar as queixas de algumas pessoas com o argumento de poluição sonora causada pelo som dos atabaques e vem instaurando processos contra esses sacerdotes.
A história das religiões afro-brasileiras no Rio Grande do Norte é registrada, desde o final do século XIX e início do século XX, baseando-se em uma fonte específicas: a imprensa que registrava a história da perseguição da polícia aos pais-de-santo. Interessante observar que um século depois, em pleno século XXI esta relação Policia X Pais-de-santo ainda mantém características similares. Ressalvada algumas ações pontuais e pessoais ao longo desta história que se caracteriza, particularmente, pela invisibilidade enquanto religião; e uma intolerância visível e contínua de seus adeptos.
Uma história que se caracteriza também pela perseverança e capacidade de articulação política de seus seguidores. Hoje é crescente a presença de pessoas da classe média e de jovens de classes sociais diversas. Chega a ser engraçado, o fato acima.
O Rio Grande do Norte é um Estado que enfrenta grandes e verdadeiros problemas em se tratando de degradação ao meio ambiente. Temos a carcinocultura que avança sobre os manguezais; temos a ocupação irregular de áreas verdes e dunas; temos a grilagem nas terras das comunidades negras rurais; temos a poluição do rio Potengi; temos a contaminação do lençol freático; temos a desertificação na região do semi-árido; temos o comércio ilegal de animais da fauna local; temos, temos, temos,.... muitas outras coisas. E, independente de tudo isso, uma delegacia mobilizar agentes da polícia civil para verificar a altura de sons produzidos por atabaques de candomblé chega a ser ridículo. Isto foi fato comum na Bahia na década de 30 do século XX. Esta situação de intolerância e violência policial às religiões afro-brasileiras estimula, ainda mais, a discriminação e o preconceito contra a religião e os seus adeptos.
Em um país que se auto-proclama plural culturalmente e mestiço etnicamente isto soa como mais uma contradição. Uma última pergunta: Como fica a liberdade de culto? A resposta que obtive em uma entrevista com uma delegada: _Quer bater tambor para macumba? Voltem para a África ou vão para os matos onde eu não possa ouvir.

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