domingo, 25 de setembro de 2011

A contribuição da população afro-descendente na historiografia do Rio Grande do Norte, por Geraldo Barboza de Oliveira Junior

O Rio Grande do Norte é sim um estado construído com a contribuição da cultura africana. Infelizmente, a história local tem como característica a negação da presença negra no Estado do Rio Grande do Norte. Por isso é tornada invisível toda a contribuição da população negra para a formação cultural do Rio Grande do Norte.
A historiografia do Rio Grande dó Norte é genérica em afirmar sobre a não presença de uma expressiva população negra na região. Como conseqüência desta quase não-existência não se registra de forma sistemática a contribuição da população negra à cultura regional. Na prática existe uma folclorização dos costumes da população negra; e, uma negação desta população como elemento ativo na economia, política e cultura do Rio Grande do Norte.
Os primeiros negros chegados aqui na condição de escravos foram em 1600 para trabalhar na lavoura. É sabido que toda relação entre culturas distintas contribui para amalgamar uma nova cultura. Quanto à afirmação de que o africano pouco deixou de seus caracteres antropológicos. Vamos observar que no Rio Grande do Norte existem mais de 70 comunidades quilombolas; também aqui existem também inúmeros modelos de religiosidade afro-brasileira (cerca de 1500 locais de referências para práticas do Candomblé, Umbanda e Culto da Jurema). A existência destas formas de religiosidade já era notada desde o fim do século XIX, com a pratica do Catimbó e do culto da Jurema.
Existem aqui, também, 04 ordens religiosas católicas que foram criadas especificamente para os negros: Nossa Senhora do Rosário, São Gonçalo, Santa Ifigênia e São Benedito com capelas com quase 200 anos. A igreja mais antiga de Natal é a Igreja do Rosário na Cidade Alta. Em 1817, na Revolução pró-independência, havia uma companhia de soldados pardos e uma companhia de soldados pretos, que se denominavam Henriques.
Quanto à sua participação na economia regional, afirmo que esta foi preponderante para o desenvolvimento da região pelo fato de que este sempre esteve presente nas três atividades econômicas do Rio Grande do Norte: a Cana-de-açúcar, o gado e o algodão.
A mão-de-obra negra no ciclo da cana-de-açúcar foi responsável pela riqueza dos “nobres” da região e pelo surgimento de cidades relacionadas diretamente à produção do açúcar. Estas cidades (Macaíba, São José de Mipibú e Ceará-Mirim) são visíveis pela sua arquitetura suntuosa, que foi, volto a afirmar resultado da presença da mão-de-obra negra na economia local. Não houvesse escravidão, não haveria estas cidades com suas características peculiares.
Em relação à criação do gado na região do Seridó, a literatura mostra uma população negra integrada nas atividades da criação do gado desde as primeiras fazendas na região. Os trabalhadores negros tem uma história ligada à manutenção das fazendas nos períodos de seca. Viravam gerentes e responsáveis pela criação, venda, e toda e qualquer atividade econômica do ciclo da pecuária no Seridó. Esta micro-região tem cerca de 20 comunidades negras espalhadas em alguns dos seus municípios.
Os serviços de colheita e tecelagem do algodão eram atividades executadas pelos escravos junto com a população livre na segunda metade do século XIX. A atividade de produção de alimentos era digna também de consideração na economia do RN desde o século XVIII.
Um outro ponto colocado é que o negro não “legou manifestação cultural de valor”. Para isto é mister ignorarmos a presença dos vários Grupos de Congos (inclusive Congos de calçola) em várias partes do Estado; o Zambê dos negros de Simbaúma; A Dança do espontão dos negros de Caicó e Parelhas; a presença de elementos africanos na alimentação regional, como o guiné, a pimenta, a banana, entre outros.
A intenção maior deste texto não é de nenhuma maneira, confrontar a imensa contribuição de nosso ilustre historiador. Mas, apenas mostrar pistas na sua própria historiografia da presença expressiva da população negra na história local. Depende agora de nós pesquisadores procurarmos nesta rica literatura os dados que não estão sistematizados sob a égide de História da população negra no Rio Grande do Norte.

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