traga-me
o trem noturno
que vara as trevas
confiado tão somente
no brilho do seu trilho
traga-me o sol
facho
o leite de pendente luna
mas venha só
e embrulhe seus presentes
em papel crepom
fita verde ou encarnada
para que o imprevisto
de tua chegada
seja calmo como um lago
sem ventos
lento, calado, lento
como coisa anunciada
para que esse trem, esse sol e essa luna
pareçam coisas simples
pareçam coisas tuas
para que essas luzes
amordaçadas
no papel de presente
se tornem previsíveis
e marquem, simplesmente,
o dia, a hora, o minuto,
de tua chegada
ou ainda
como se o tempo
saltasse sobre as asas da noite
e lhe cravasse os dentes
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