terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Elegia

De Mário Hélio, Recife, PE.

soube que mudaste.
confesso que ao te ver e não mais ver-te
não entendi porque o tempo,
que tudo verte, não te fez logo uma flor,
dessas sem haste,
ou não te tornou logo uma ave medonha em seu vôo.

bem poderias também ser como lua
que vira só o que é.
ou serias algo lembrando enfim o que conflui
para tudo o com que te parecias.
não sei já pensaste nisto (como tudo é antigo!)
mas todas as pessoas
têm outra imagem afim que não a sua,
e a semelhança às vezes tal similitude alcança
que a gente não nota a mínima mudança.
para cada pessoa que existe (viva ou morta)
há uma planta igual a ela,
há uma árvore que se porta
exatamente como aquela pessoa
ou pelo menos algo dela ecoa;
o tanto mais que ela pode ser pouco importa.
assim contigo: que a vida fizesse
ser como o que se parece
e não como o que perece.

nada mais podes fazer,
nem há nada que se possa fazer em tua ajuda.
no teu estado é sempre madrugada.
invejo agora a tua indiferença
diante de mim e de tudo o que pensa.
embora eu saiba que tudo isto ignoras
e que faço pra mim mesmo esta elegia
gostaria de pensar que gostarias
de saber o que eu mais queria agora
nesta primavera,
não o que o tempo te fez,
saber o que tu és,
não o que
heras.

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